segunda-feira, 11 de maio de 2009

Tanto mar



Parte da versão original da canção 'Tanto Mar' de Chico Buarque, retirada de um documentário sobre o 25 Abril de Sérgio Tréfaut. Fabuloso!

domingo, 3 de maio de 2009

Ma



Mãe é aquela que, ao ver que só sobram duas fatias de bolo havendo três pessoas na mesa, é a primeira a dizer que nem aprecia muito :)



(1992)

quarta-feira, 18 de março de 2009

Pai



"Fazes muito mais que o sol"

[1996]

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Recortes

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bem grado todas elas

tirando partido levam-nos a temer coisas que ainda nos habitam

actuam pelo sonho

como nas tendências



lembranças


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sábado, 26 de janeiro de 2008

Mar

Era um dia qualquer, num sítio qualquer, a uma hora qualquer.
Finalmente, o autocarro chegara. Entrou e pediu uma senha.
-Um euro e trinta, por favor.
Procurou o dinheiro no meio do caos em que se encontrava a sua mochila. Chaves, maquilhagens, folhas e mais folhas desorganizadas quase de propósito, daquela sua forma tão característica.
Pagou e foi-se sentar.
Tinha os pés gelados. Decidiu pousá-los no banco da frente, ao sol, numa tentativa de os aquecer. De phones nos ouvidos, deixou as músicas tocarem, umas a seguir às outras, naquele seu paraíso que mais ninguém podia sentir.
Sem sequer se aperceber, fechou os olhos e apoiou a cabeça na janela, esquecendo-se de todos os seus caminhos e objectivos.
Deixou-se ficar e, em apenas uns minutos, sonhou com mil e uma coisas, voou daquele autocarro, foi à lua e (não) voltou.
Abriu os olhos, ao fim do que, para ela, parecera um segundo.
Há muito que tinha passado a sua paragem. Carregou no botão “STOP” e deixou o autocarro, quase tropeçando no degrau.
O que fazer? Apanhar o autocarro no sentido contrário? Ou… Olhou para a sua direita, e ali estava ele: calmo, sereno, no seu pleno estado de perfeição e liberdade. Por momentos, deixou-se ficar ali, a tremer de frio e a sorrir perante aqueles arrepios tão típicos da imagem que presenciava.
O frio incómodo e quase insuportável deu lugar ao doce sabor da brisa que ele emanava.
Esqueceu as aulas, o relógio, e até mesmo todo o seu futuro por aquele momento em que poderia permanecer o resto da sua vida.
Aproximou-se. As pernas tremiam e os olhos iluminavam-se como se nunca antes o houvessem reflectido.
Calcou a areia molhada e foi andando, devagar, sentindo o gosto do seu cabelo despenteado pelo vento, e deixando pegadas atrás de si.
Tirou o casaco e pousou-o, sentando-se.
Disse olá. Esperou uma resposta, mas ele limitou-se a revolver-se, a debater-se na sua fúria imensa e incansável. Sorriu, como se o entendesse, como se isso significasse uma espécie de sinal feito especialmente para si.
A maré estava a subir. Uma linha de água sorrateira já lhe havia beijado a ponta dos pés, quando decidiu levantar-se, pegar no casaco e deixar-se ficar assim, de pé, assobiando uma música qualquer.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mais um dia cheio de nada

Era fim de tarde, num Sábado especialmente escuro e chuvoso. Ele morava sozinho, num bairrozinho do centro do Porto.
Apenas os telefonemas de mãe, todos os dias, à mesma hora; e um velho gato que, por alguma razão, não tinha capacidade de se afeiçoar a quem quer que fosse.
Só isto dava um pouco de vida àquela casa quase sempre silenciosa, com tudo espalhado por todo o lado. Ele pintava, apenas para ele e para a sua alma (se é que a alma existe). Era talvez uma forma de se distrair, de enganar a saudade daquilo que nunca tinha tido na vida.
Este era um dos seus dias preferidos: cinzento, escuro, silencioso, nos quais não se encontrava vivalma nas ruas daquele bairro, em que qualquer pessoa optaria por ficar em casa, a “vegetar”, com a sua mantinha no colo.
Hum, típico.
Decidiu sair. Vestiu a gabardina e foi apreciar o silêncio da rua.
Chovia cães e gatos, mas oh, como ele gostava daquilo!
Foi descendo a rua, devagar, procurando seguir sempre por baixo das caleiras.
Era Março, e as árvores ainda estavam completamente despidas. A chuva inundava a rua, e a água escorria fazendo da estrada um leito.
Passou por uma loja e comprou um guarda-chuva, esquecera-se do seu.
As botas estavam completamente submersas e a água já tinha ensopado as meias de lã.
Adorava aquilo… o silêncio… a escuridão das sete horas da noite…
Só ele, a chuva, e os reflexos de tudo…
Avistou um vulto a vir em direcção a ele:
-Boa tarde, tem horas?
-Sete e meia – respondeu.
E, por alguma razão, ficaram ali, a falar…
Eles, a chuva, a rua, e as palavras… Eles, a chuva, a rua, e as palavras…
Eles… a chuva… a rua… as palavras…
Era tarde… Voltou para casa… Despiu a gabardina, as botas e as meias. Pegou no gato e foram para o sofá, também eles vegetar.
Mais um dia cheio de nada… Como era bom…